Já tive um negócio. Durou pouco, um ano e meio. Nunca mais quis formar uma empresa, apesar de novas oportunidades. Penso nas experiências que tive como empreendedora e as comparo com as cartilhas que ensinam como obter sucesso. Em geral, acho esses métodos irreais, entretanto, insistindo um pouco, descobri nos livros Rework e O livro negro do empreendedor conselhos lúcidos e coerentes com as experiências que tive. Aqui vão algumas dicas:
1- Não tenha sócios!
Somente em última circunstância(última mesmo!) você deve fazer uma sociedade. De início parece perfeito, mas com o tempo começam a aparecer as diferenças. Tudo tem que ser negociado e, muitas vezes, uma das partes se acha mais valiosa do que a outra. Não há fluidez e as mudanças podem ficar empacadas, já que cada decisão precisa antes ser debatida. O cenário fica ainda pior, quando os sócios, que antes tinham seus papéis definidos, passam a adentrar na área de atuação do outro e alterar acordos de maneira não oficial. Ocorrem ainda as inúmeras possibilidades comuns aos pobres mortais como: ter inveja, amores não correspondidos, ciúmes, ganância, preguiça, incompatibilidade de gênios etc, que podem, e muito, detonar um empreendimento que está obtendo sucesso.
Eu fiz essa merda! A pior de todas!!!!!
2- O seu negócio pode ser pequeno
Se eu tivesse almejado algo menor(eu até quis, mas não segui o instinto) e tivesse começado de maneira mais simples, provavelmente teria sido mais bem sucedida. Um pequeno negócio pode ser mais do que suficiente para proporcionar bem estar material e é muito mais fácil de ser mantido, sobretudo em momentos críticos. O ideal é não ficar imaginando quão grande a firma tem que ser, o melhor é achar a medida satisfatória que atenda as próprias necessidades.
3- Não exagerar
Veja se o local não é grande demais para a real necessidade ou caro demais para sustentar. Os móveis e quaisquer outros objetos não precisam ser de alta qualidade. Deve-se contratar o mínimo de empregados no início. Procure sempre por algo que possa remover, simplificar, aparar, diminuir, enxugar, esvaziar. Faça você mesmo o que for possível.
No meu caso, houve mesa feita sob medida, cortinas especiais, letreiros gigantescos com trocentas lâmpadas que consumiam uma energia absurda e uma série de inúmeros detalhes supérfluos que não acrescentaram em nada e sugaram nossos lucros.
4- Peça com moderação!
Não contraia muitas dívidas para abrir um negócio. Faça o máximo que puder com o que tem. É muito complicado ter um empreendimento novo, ainda pouco lucrativo, e ter que trabalhar para pagar os outros por anos a fio. Ter poucos recursos pode também ser uma vantagem, pois incentiva o uso da criatividade.
Eu não entrei com nenhum centavo, somente com o trabalho, mas mesmo nessa circunstância, o ideal é que não se permita que a outra parte entre com um montante muito alto, pois, como já foi dito anteriormente, o dono do dinheiro acaba achando que é o verdadeiro dono do negócio, e a outra parte fica destituída de poder.
5- Não viaje na maionese!
Sonhar é legal! Acreditar que você terá sucesso e clientes aos montes é muito saudável, mas até a página dois. O melhor mesmo é ter os pés no chão e viver do momento presente, dando importância ao que tem que ser resolvido agora, esta semana e não este ano. Também não estabeleça metas rígidas ou a longo prazo, tenha uma idéia do que quer, mas seja flexível e improvisador de acordo com o momento. As circunstâncias mudam e isso leva a reformular tudo o que foi planejado anteriormente. As condições do mercado, os competidores, os clientes, a economia e muitos outros fatores estão fora do alcance do empreendedor, portanto concentre-se no que é essencial agora.
6- Agir é mais importante do que discutir sobre os assuntos
Reuniões enchem o saco e muitas vezes não resolvem nada, pois fica todo mundo num blá,blá,blá que complica mais ainda o problema debatido, que acaba sendo adiado para um próximo encontro. O melhor é cortar toda formalidade, burocracia, mapas, inventários, política da firma ou qualquer outra invenção que só serve de enrolação, atraso e empacamento. Sem esses entraves é cabível mudar o modelo inteiro da firma, o produto, o formato, o marketing etc. Os enganos podem ser feitos e solucionados rapidamente, além de se poder escolher as prioridades e o foco.
7- Faça de seu jeito
Coloque o que você é, sua forma de fazer e os seus princípios no negócio. É importante que você goste do produto que vende o veja como algo importante na vida das pessoas. Saber conhecer cada peça que compõe o trabalho é fundamental, mesmo não sendo um expert em determinados assuntos, o ideal é não deixar nada às cegas na mão de ninguém.
8- Ensine!
Não procure a grande mídia. Faça um blog, escreva, seja ativo nas redes sociais, faça vídeos para o youtube ou qualquer outro meio mais pessoal e barato. Dê mostras do que você faz de forma gratuita. Ensine a fazer, isso gera confiança. Responda a dúvidas do público. Mostre os segredos. Não fique de mesquinharia acreditando que não pode revelar algo novo. Conte sobre algumas dificuldades. Se exponha de uma maneira que as pessoas fiquem seduzidas.
Veja também: Curar-se depois do fracasso
9- O cliente pode estar errado sim!
Trate com atenção o freguês e mostre-se preocupado com o destino dele. Seja natural, fale com espontaneidade… não vire um robô! Não tente parecer mais do que realmente é. Mas é importante saber se confrontar com o cliente, pois afinal ele nem sempre tem razão! Seria injusto presumir que alguém mereça tratamento especial por possuir uma determinada condição… isso é preconceito.
Caso alguma coisa dê errado, desculpe-se com o cliente entrando em contato o mais imediatamente possível. Explique a situação e as dificuldades pelas quais está passando para solucionar. A justificativa deve ser dada por uma pessoa de posição mais elevada dentro da empresa. Se o consumidor não estiver satisfeito com o produto, recomende o do seu competidor.
A empresa não tem que se adequar as necessidades do cliente e, se este já não obtêm mais benefícios com o produto oferecido, significa que está na hora de buscar com outro vendedor o que está precisando.
Isso pode acontecer, por exemplo, em caso de aulas. O aluno chegou ao ponto máximo de conhecimento que o professor é capaz de ensinar-lhe(por limitação técnica ou falta de vontade), então cabe ao aluno seguir outro destino.
Em tempo de professora de danças, muitos alunos queriam que eu ensinasse a dançar o “Tchan”. Eu sempre odiei coreografias de massa. Ia contra a minha filosofia de que as pessoas deveriam desenvolver seus movimentos para dançarem livremente, sendo assim nunca atendi a esse pedido.
Quando pedir desculpas por algo que não rolou, tente ser educado usando frases do tipo:
“Nós sentimos muito se não atendemos as suas expectativas”.
“Nos desculpamos por qualquer inconveniente que isso causou”.
10- Esqueça os concorrentes
Inspire-se com o que há de bacana por aí, mas não copie… é deprimente! Fuja da idéia de que se deve conseguir o mesmo que alguém lá fora conseguiu… não deixe que eles estabeleçam os parâmetros, faça o seu! Quanto mais original, melhor. O concorrente não é um monstro que tem que ser combatido e derrotado, portanto não viva em paranóia, entretanto, às vezes, tornar pública uma certa oposição ao adversário, pode gerar uma certa popularidade que vem de carona com a fama que o rival possui.
Num primeiro momento, o anonimato pode ser uma condição vantajosa para quem ainda está inexperiente, já que permite tentar mil vezes das maneiras mais contraditórias possíveis, com erros que poucos vão ver. Isso ajuda a ganhar tarimba sem que a imagem seja prejudicada
11- Não trabalhe muito
A pessoa deve ter tempo para se dedicar a outras coisas na vida, e o mesmo se aplica ao funcionários da empresa, que devem ser incentivados a, realmente, deixar o local de trabalho na hora combinada, se for às seis, será cumprido tal acordo todos os dias. É importante deixar o trabalhador ter autonomia em sua tarefa e evitar estabelecer um montão de regras chatas de comportamento, etiqueta, modo de vestir etc. Tratá-los como adultos e amadurecidos é um ato de respeito humano. Se algum fizer algo que não seja legal, basta chamar num canto e dar um toque para mudar. O ambiente físico de trabalho não precisa ser rico nem luxuoso, mas deve ser agradável. Trabalhar num chiqueiro escuro faz qualquer um ficar pra baixo.
Quando contratar alguém lembre-se que currículos não significam muita coisa, anos de experiência pouco importam e educação formal também não quer dizer nada. Em síntese, ouça a pessoa e sinta o clima, mas se não der para captar por aí, crie um período de experiência ou a coloque em algum projeto para ver como ela se sai.
Mais uns toques para quem está começando
A-Falhar não é certeza de vitória.
Uma pesquisa mostrou que investidores cujas empresas falharam na primeira vez, no negócio seguinte tiveram uma taxa de sucesso de 23%, equivalente a quem está iniciando uma empresa, ou seja, o mesmo sucesso de quem nunca experimentou nada.
B- Não se deve esperar por soluções ou momentos perfeitos. É preciso decidir, agir e por para funcionar. O importante é começar, seja do jeito que for.
C- Sucesso da noite para o dia não é ideal.
D- Não é necessário viver com uma decisão para sempre, se cometer um engano pode corrigí-lo depois.
E- Não superanalisar e adiar antes de pôr para funcionar.
F- Não tente resolver problemas que ainda não aconteceram ou existem.
G- Tomar pequenas decisões ao invés de grandes decisões.
H- Se dedicar e se deliciar com as pequenas vitórias.
I- Esquecer os detalhes, em primeiro lugar, e se concentrar no que é essencial.
J- Não se contaminar por grandes projetos e tentar por em movimento qualquer novidade fruto de excitamento. O ideal é escrever as idéias e depois analisá-las friamente.
K- Concentrar-se no que é mais importante. Ver qual a parte do negócio que não pode ser removido.
L- Saiba deixar algo se perceber que não está dando certo. Não perca mais tempo do que deveria.
Fonte: Rework de Jason Fried and David Hanson e
O livro negro do empreendedor